Era triste o olhar dela sobre as ondas do lago que quase
tocavam seus pés. Triste e tranqüilo, não havia como ignorar a tranqüilidade
que a clareira causava.
O lago, a cachoeira, o platô de pedra. Era o lugar certo,
perfeito.
A tarde estava quente e o sol começava a sua descida rumo ao
fim do dia. Ela se levantou, foi armar o acampamento, pegar lenha, fazer fogo e
cozinhar um caldo de batatas.
A noite subiu estrelada, uma brisa fresca soprava trazendo o
perfume do bosque que a rodeava, encheu uma cumbuca de caldo e sentada à beira
do fogo foi sorvendo vagarosamente o caldo, olhando as estrelas.
É bom aproveitar esses pequenos prazeres que colorem a vida,
nos dão sentido. Parar para olhar o corriqueiro que esquecemos na correria quotidiana,
o tempo que nos escorre das mãos perdido na busca de desejos mutantes, agora
passava lentamente.
O barulho surdo da cidade, tão presente, tão incorporado que
só se sente o quanto incomoda quando se está no meio do silêncio.
O silêncio da floresta a noite, o som da água correndo na
pedra, vento cantando nas árvores, pássaros, insetos, o ar leve inspirado lenta
e profundamente enche os pulmões de energia libertadora, destrava o pensamento.
Deitada em seu saco de dormir, dando longas baforadas, ela
olhava o céu carregado de estrelas um tanto ofuscadas pela luz da Lua cheia,
devaneava soltando as histórias presas em seu inconsciente, viajando nos mundos
soltos no céu, voltando às referencias largadas pela vida, ligando pontos,
criando verdades, adormeceu...
Ele vinha em sua
direção, torso largo, peitoral marcado, aberto, destemido, braços fortes, pele
morena, cabelos escuros, olhos amendoados, negros, nublados, lábios carnudos,
rosto anguloso de feições que mostravam traços indígenas, pernas torneadas,
músculos levemente demarcados. Vinha saindo da água lentamente, a linha da
superfície ondulada revelava quase que com malícia os detalhes do seu corpo nu,
as gotas escorriam pelo seu corpo como que numa provocação, mamilos pequenos,
escuros, peito liso, abdômen firme, falo rijo, coxas grossas, nádegas firmes,
caminhava sob o sol que refletindo nas gotas d’água fazia seu corpo brilhar
quase a ofuscando...
Ele acordou inquieto aquela manhã, dormiu mal cheio de
sonhos estranhos dos quais não se lembrava mais.
Estava cansado, a rotina intensa à qual vinha se propondo a
levar era eletrizante e intensa, perfeita neste momento conturbado da vida,
mudanças, novos horizontes se abrindo, energia acumulada pronta pra explodir,
porém causavam bastante stress, cansaço físico e mental.
Sentiu que precisava de um tempo, uma pausa pra se
recuperar, relaxar.
Decidido, levantou-se, arrumou a mochila, carregou o carro e
caiu na estrada. Ouvindo um som, subindo a serra, fumando um... Fazia tempo que
não ia acampar lá, era o lugar perfeito.
Estava ansioso para chegar lá, ia divagando, planejando o
churrasquinho na beira do lago, virou o carro entrando na estradinha que levava
ao platô e viu a barraca.
_ Puts! Tem gente – pensou carregando as mochilas e rumando
ao platô – tomara q seja só essa barraca, to a fim de muita gente não – e foi
murmurando encontrar quem quer que fosse, cumprimentar e descer lá pra perto da
cachoeira.
Tomando uma caneca de café e reclamando consigo mesma de
ter-se deixado dormir ao relento, ainda no mal humor matinal ela ouviu o barulho
do carro chegando e praguejou mais uma vez “merda, chegou alguem”. Virou-se e
deu de cara com o moço “uau! Gato!” pensou dirigindo se a ele
_ Oi
_Oi, sou o Pedro e você? – disse ele meio sem jeito “gostosa
hein?” pensou olhando-a
_ Carolina, um café? - perguntou alcançando a garrafa e
enchendo uma caneca
Ele pegou a caneca agradecendo com um gesto de cabeça, tomou
um gole enquanto ela enchia a própria caneca e disse:
_ bom, obrigado pelo café, vou acampar mais lá pra baixo,
perto da cachoeira.. – ele disse meio sem jeito
_ Relaxa, quer bolo? Esse lugar é incrível né? Gosto bastante de acampar por aqui de vez em
quando, pena é que não dá pra vir sempre – ela disse tentando quebrar o gelo
_É, as vezes fujo pra cá, quer dizer, essa é só a segunda
vez hehehe..
Conversaram amenidades por alguns minutos até que ele se
despedir indo arrumar seu acampamento, antes de se distanciar muito parou e a
convidou pra almoçar mais tarde, ia fazer um churrasco
_ Ok, até mais então – disse ela dando uma piscadinha e virando-se
em direção à sua barraca.
Ele se virou continuando a caminhada com um sorrisinho
levemente maroto nos lábios “Vô pegá!”, pensou.
Enquanto ele montava suas coisas ela nadava no lago, a
sensação de liberdade que sentia nadando na água fresca do lago era indescritível,
de longe observava o moço todo corrido lá em baixo, só de bermudas, carregando
pesos, mostrando músculos, “ai ai..” suspirou, vendo que ele terminara suas
arrumações e saltando para um mergulho no lago... Começando a gostar da idéia de uma
aventurazinha, ela saiu do lago se enrolando na toalha, tentando jogar todo o
charme que podia ao perceber que ele a observava de onde estava e ao mesmo
tempo fingindo que não o via, ahh como é boa essa brincadeira de sedução, o
retiro estava começando a ficar divertido.
Já não via a hora de mergulhar nesse lago, pensou ele caindo
na água, percebeu a moça o olhando de longe e caprichou no mergulho, quando
emergiu viu ela saindo do lago, usando a toalha sensualmente e andando até a
barraca, mergulhou de novo e relaxou sentindo a água, nadou por alguns minutos
e saiu renovado já sentindo o cheiro da carne assando que subia da
churrasqueira.
Secou-se, arrumou os cabelos se vendo no reflexo de um
espelho pendurado na porta do iglu, ensaiou seus olhares sedutores, pois se havia algo em que confiar era nesse
charme que sabia que tinha , ligou o som e foi preparar uma caipirinha, vendo
que a moça já estava a caminho.
_ Oi, disse ela chegando
_E aí? Respondeu ele estendendo o copo.
E começaram a conversar, a beber, a fumar, e a conversa se
acalorava conforme o álcool subia, e riram, vibraram com coincidências de
interesses, recuaram com incompatibilidades, e comeram, e beberam mais, fumaram
mais, se aproximaram mais, se tocaram, se beijaram, se enrolaram.
Ela se sentou por cima dele, suas mãos passeavam pelos
corpos mútuos, descobrindo a pele, levantando o vestido, abrindo o zíper. Ele a
apertou num abraço, corpos colados, respiração ofegante, encaixe, desejo, tesão.
Se perderam no tempo, se perderam um no outro, as horas
corriam sem serem percebidas, a tarde caiu sobre eles e a brisa fria os
despertou do transe
_Uau!
_É...
As palavras somem quando não são necessárias.
Ela se sentou, e se viu nua numa esteira no chão de
pedra, “Que loucura”, suspirou olhando o céu se escurecendo, ele se sentou ao
lado a abraçando, ela se deixou envolver em seu corpo quente, acendeu um
cigarro que compartilhavam enquanto ela o mostrava as estrelas e constelações,
ele a convidou para entrarem no iglu, entraram, totalmente loucos e entregues
que estavam seguiram noite adentro no delírio de prazer até que extasiados e
exaustos se entregaram ao sono.
Ela acordou antes dele, já era tarde, levantou-se, fez um
café, e foi arrumar suas coisas, era hora de partir, voltar.
Ele acordou, ela não estava ali, saiu da barraca e ela
estava caminhando em direção a ele, seu acampamento já não existia, ficou
confuso
_ Vai embora? – disse ele meio que incrédulo.
_Vou, gato.
Acariciou-lhe o rosto como que para guardar a imagem na
memória, beijou-lhe num suspiro profundo que ele correspondeu abraçando-a forte
e envolventemente.
_ Me deixa seu contato? Vamos nos encontrar na cidade?
Ele a olhava com um olhar intrigado, meio que perdido, meio
sedutor. Ela o olhou com desejo, ternura, era difícil a decisão.
_ Seria interessante te encontrar de novo, gato... Mas
prefiro te deixar aqui, na minha fantasia.